| Autor | Laís Giuliani Felipetto – Analista Técnica |
| Coordenação | Luiz Claudio Faria Cruz – Departamento Técnico da FAET |
| Assunto | Impacto da taxação de 50% nas exportações do Tocantins para os Estados Unidos da América. |
| Resumo | A aplicação da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras imposta pelos Estados Unidos da América, com vigência prevista para 6º de agosto de 2025, poderá gerar impactos relevantes na economia nacional, como queda na receita das exportações, pressão sobre o mercado interno e redução dos preços pagos aos produtores rurais. Produtos como carne bovina, café, frutas frescas, ovos e tilápia seriam os mais afetados. Os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina brasileira (12%), atrás apenas da China (49%). Em 2024, os EUA importaram mais de US$ 2,8 bilhões em produtos de origem animal do Brasil, 50,3% desse valor corresponde à exportação de carnes, sendo que a carne bovina representa 95,7% do montante. O estado do Tocantins é o 9º maior exportador de carne bovina para os EUA e o segundo da região Norte, com apenas um frigorífico habilitado para essa operação. Em 2024, o Tocantins exportou US$ 73,8 milhões em produtos de origem animal para os EUA, representando 3,8% da carne bovina brasileira destinada ao país norte-americano. A imposição de tarifas reduz a competitividade da carne tocantinense nos EUA, afetando diretamente o escoamento da produção e a renda dos produtores locais. Diante disso, é essencial que o governo federal busque reverter a medida e, paralelamente, que a indústria articule novos mercados para mitigar possíveis prejuízos. |
| Palavras-chave | Mercado, carne bovina, produção animal, indústria. |
1. Introdução
O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, assinou no dia 30 de julho um decreto executivo que oficializa a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. A medida entra em vigor sete dias após a assinatura do decreto, ou seja, em 06 de agosto.
Entre os principais produtos brasileiros sujeitos à taxação estão o café, o cacau, a carne e as frutas. No entanto, alguns dos itens mais relevantes de exportação do país foram excluídos da taxação, como: artigos aeronáuticos, suco de laranja, madeira, vários insumos de madeira, celulose, minérios e petróleo (The White House, 2025). Assim, embora a taxação tenha impacto menor do que o inicialmente estimado, devido às isenções, ela ainda pode afetar de forma significativa as exportações brasileiras.
A imposição da tarifa de 50% sobre os produtos de origem animal podem comprometer receitas, gerar desequilíbrios de mercado e pressionar os preços pagos aos produtores rurais (CEPEA, 2025). Os EUA são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, com 12% das exportações, sendo superado apenas pela China (49%), e os estados que mais exportam carne bovina para os EUA são São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul (MAPA, 2025).
Com a redução das exportações, o excesso de carne bovina no mercado interno pode afetar negativamente o consumo de aves e suínos, impactando toda a cadeia da proteína animal (ABPA, 2025). Além disso, com relação à carne suína, os EUA compram 2% das exportações brasileiras (cerca de US$ 180 milhões/ano). Enquanto na cadeia de pescados, o Brasil exporta aproximadamente 1.300 toneladas de tilápia por mês para os EUA, movimentando cerca de US$ 3 milhões mensais (CEPEA, 2025).
O setor de ovos possui como seu principal destino os EUA, correspondendo a mais de 60% das exportações do produto, dessa forma a taxação é extremamente complexa para o setor. No entanto, vale ressaltar que os EUA recentemente enfrentaram a gripe aviária, com consequências econômicas significativas para a população. Devido a essa situação, há a possibilidade do país recuar na implementação das medidas tarifárias, a fim de minimizar efeitos adversos adicionais na sua economia (CEPEA, 2025).
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) demonstraram que em junho de 2025 o volume adquirido pelos norte-americanos foi o menor desde dezembro de 2024. Além disso, que de abril para junho, os EUA diminuíram o volume importado em 29.603 toneladas, enquanto a China aumentou suas compras em 27.782 toneladas.
Em junho, especificamente, vários outros parceiros comerciais também aumentaram suas compras em relação a maio. Como resultado, as exportações totais de carne bovina brasileira registraram o segundo melhor desempenho do ano, com aproximadamente 270 mil toneladas (MAPA, 2025). Uma parcela significativa da compensação nesse período ocorreu pelo aumento dos embarques à China, que desde fevereiro vem ampliando mensalmente suas aquisições (ABPA, 2025).
Além disso, esse fluxo sinaliza que frigoríficos brasileiros têm possibilidade de ampliar suas vendas em outros mercados. Com relação ao estado do Tocantins, serão analisados os principais dados de exportação para os EUA, a fim de entender os reais impactos que podem ocorrer devido à taxação de 50% nos produtos exportados para o país.
2. Dados de exportação
Os EUA é um importante parceiro comercial do Brasil, em 2024 foram exportados 7,3% dos produtos do agronegócio brasileiro para o país, sendo que os produtos de origem animal correspondem à 23,2%.
| Exportação do Brasil em 2024 | Valor em dólares | Porcentagem (%) |
| Produtos do agronegócio | 164.304.371.138 | 100% |
| Produtos do agronegócio exportados para os EUA | 12.082.324.001 | 7,3% |
Quando separado por categorias de produtos exportados, as carnes (bovina, suína, frango, miudezas e preparações, peru, ovino e caprino) correspondem a mais de 50,3% das exportações, seguido dos demais produtos dispostos na tabela abaixo.
| Produtos de origem animal exportados para os EUA em 2024 | Valor em dólares | Porcentagem (%) |
| Total | 2.802.475.113 | 100% |
| Carnes | 1.411.117.011 | 50,3% |
| Demais produtos de origem animal | 725.340.684 | 25,9% |
| Couros, produtos de couro e peleteria | 328.205.252 | 11,7% |
| Pescados | 224.289.110 | 8,0% |
| Produtos apícolas | 78.924.429 | 2,8% |
| Lácteos | 15.515.244 | 0,6% |
| Ração para animais | 13.822.322 | 0,5% |
| Animais vivos (exceto pescados) | 5.261.061 | 0,2% |
Além disso, quando segregado a categoria carnes por espécie, a carne bovina corresponde à 95,7% das exportações, sendo o produto com maior expressividade e importância.
| Carnes exportados para os EUA em 2024 | Valor em dólares | Porcentagem (%) |
| Total | 1.411.117.011 | 100% |
| Carne bovina | 1.350.160.505 | 95,7% |
| Carne suína | 59.406.646 | 4,2% |
| Carne de frango | 860.912 | 0,1% |
| Demais carnes, miudezas e preparações | 687.340 | |
| Carne de peru | 1.197 | |
| Carne de ovino e caprino | 411 |
3. Dados de exportações do Tocantins
O Tocantins exportou em 2024, US$ 2.370.425.295 (dois bilhões, trezentos e setenta milhões, quatrocentos e vinte e cinco mil, duzentos e noventa e cinco dólares) para diferentes países. Com relação às exportações do Tocantins destinadas para os EUA, 100% das exportações foram de produtos de origem animal, porém representaram apenas 13,6% de todos os produtos de origem animal exportados do estado.
No Brasil 13 estados estão aptos para exportar carne bovina para os EUA, o Tocantins ocupa a 9ª colocação entre os estados, sendo o segundo maior exportador da região Norte, atrás de Rondônia. Contudo, o volume da exportação para os EUA está concentrada em um único frigorífico habilitado, situado em Araguaína (Minerva S.A.), enquanto que, no Brasil, há um total de 57 estabelecimentos autorizados (MAPA, 2025).
Os produtos de origem animal exportados do Tocantins para os EUA são segregados em duas categorias: carnes, que correspondem a 72% da exportação, enquanto os outros 28% são referente aos demais produtos de origem animal. Dessa forma, o Tocantins é responsável pela exportação de 3,8% da carne brasileira para os EUA, sendo que a totalidade dessas exportações refere-se exclusivamente à carne bovina.
No entanto, o estado do Tocantins possui outros países como importantes parceiros econômicos, sendo a China o principal mercado externo, absorvendo 43,8% das exportações tocantinenses.
| Produtos de origem animal do Tocantins exportados em 2024 | Valor em dólares | Porcentagem (%) |
| Total exportado | 544.066.286 | 100% |
| China | 238.438.210 | 43,8% |
| EUA | 73.846.026 | 13,6% |
| Emirados Árabes Unidos | 29.534.512 | 5,4% |
| Hong Kong | 22.443.366 | 4,1% |
| Rússia | 20.019.498 | 3,7% |
| Líbia | 17.168.041 | 3,1% |
| Demais países | 142.616.633 | 26,3% |
4. Taxas
Os acordos comerciais entre Brasil e EUA eram baseados no Tariff Rate Quota (TRQ), instrumento de política comercial criado no âmbito da Organização Mundial Comercial (OMC), que busca equilibrar a abertura do comércio com a proteção à produção interna. Ela permite a importação de um volume limitado de produtos com tarifa reduzida, aplicando tarifa cheia apenas sobre o excedente, o que evita impactos negativos aos produtores locais.
No caso da carne bovina, por exemplo, se o Tocantins exportasse 70 mil toneladas aos EUA, 65 mil toneladas pagavam tarifa reduzida de 4%, enquanto as 5 mil toneladas excedentes pagavam a tarifa mais alta de 26,5%, ou seja, as tarifas eram aplicadas em camadas. No entanto, com a nova taxação proposta, será aplicado uma taxa de 50% além do que já é aplicado, conforme descrito no quadro abaixo.
| Taxação antiga para carne | Nova taxação para carne | ||
| 4% | 26,5% | 4% + 50%= 54% | 26,5% +50%= 76,5% |
| Até 65 mil toneladas | Acima de 65 mil toneladas | Até 65 mil toneladas | Acima de 65 mil toneladas |
5. Conclusão
Diante da imposição da tarifa de 50% sobre produtos de origem animal exportados aos Estados Unidos da América, os impactos para o Brasil podem ser significativos. Essa medida exigirá a ampliação e diversificação dos mercados de destino, a fim de garantir o escoamento da produção nacional.
Embora o Brasil mantenha acordos comerciais consolidados com diversos parceiros que possuem capacidade para absorver parte dessa produção, será imprescindível uma ação coordenada entre governo e setor industrial. A fim de redirecionar os 23,2% dos produtos de origem animal brasileiros que, atualmente, são destinados à exportação dos EUA.
Com relação ao estado do Tocantins, responsável por 3,8% da carne bovina exportada pelo Brasil, será igualmente necessária a ampliação de acordos e frentes comerciais. A eventual tarifação compromete a competitividade da carne tocantinense no mercado norte-americano, o que torna urgente a adoção de estratégias voltadas à diversificação de mercados, ao fortalecimento da estrutura industrial local e à intensificação da promoção comercial em outras regiões do mundo.
Vale ressaltar que o Tocantins possui atualmente um frigorífico habilitado para exportação para os EUA. Com isso, a taxação imposta impacta de forma direta o escoamento da produção estadual e, consequentemente, a remuneração dos produtores locais. Dessa forma, é fundamental que o governo federal atue de forma rápida na tentativa de reversão da medida tarifária e, paralelamente, que a indústria articule novos mercados para mitigar possíveis prejuízos.








