“Estamos passando por uma transformação irreversível do modelo de produção da pecuária brasileira, semelhante ao que ocorreu com a agricultura 40 anos atrás; não se trata de uma mudança de ciclo, mas de uma profunda transformação na forma de produzir”.
As palavras são do professor doutor Moacyr Corsi, considerado uma das maiores autoridades em pastagens do mundo. Professor da ESALQ – USP, de Piracicaba-SP, ele foi a principal atração do evento “Café no Campo”, realizado na Fazenda JAL, em Araguaçu, pela Secretara Estadual da Agricultura com o apoio do Senar Tocantins.
Esta foi a segunda edição do evento que, segundo o secretário Jaime Café, visa difundir novas práticas que possam melhorar a produção no estado. “Araguaçu tem o maior rebanho do estado e produtores que buscam conhecimento e tecnologia para elevar a produção sem precisar adquirir novas áreas. Temos condições de produzir três vezes mais, aumentar nosso rebanho para 30 milhões de cabeças sem precisar abrir novas áreas de pastagens”, destacou.
O prefeito da cidade, Jarbas Ribeiro, também destacou emocionado que o município vive um grande momento com o avanço tanto da pecuária como da agricultura. Para ele o evento contribuiu para melhor ainda mais os resultados da atividade no município. “Nosso sonho é que em breve teremos um frigorífico em Araguaçu para beneficiar a produção e gerar riqueza e emprego para nosso município”, disse.
A posição otimista com o município é compartilhada pelo proprietário da Fazenda JAL, José Luiz Urbano Boteon. Segundo ele, quando decidiu investir no Tocantins se encantou com a região e hoje além de se sentir realizado reconhece que o município e o estado têm condições de avançar muito neste setor. “Um amigo me alertou para sugar o máximo de conhecimento do professor Corsi nesta vinda dele ao estado. Tenho certeza de que vamos aproveitar bem os conhecimentos e ensinamentos de uma referência mundial nesse segmento”, afirmou.
MUDANÇA IRREVERSÍVEL
No evento, o professor Moacyr Corsi destacou que a pecuária não pode pensar mais em aumentar a escala de produção apenas com a abertura de novas áreas. Para ele, esse modelo está ficando inviável, por isso, para ele só existe um caminho: intensificar! “a ideia é colocar uma outra fazenda dentro da própria fazenda, reduzir área de pastagem e aumentar a produção. Isso é possível e eu mostro nas minhas palestras que isso está acessível e pode ser feito por pequeno, médio ou grande produtor”, destacou.
Para ele, o momento de aparente crise é apenas mais um ciclo da atividade e esse ambiente está gerando muitas oportunidades de negócios na pecuária intensiva em pastagens.
“Só pra se ter uma ideia apenas 36% dos pecuaristas realizam algum tipo de adubação dos pastos. São justamente esses produtores que tem chance de sobreviver nesse novo cenário”, declarou. Para ele, atualmente quatro informações são essenciais para o produtor se tornar um bom pecuarista e resistir na atividade: a despesa mensal da fazenda, o número exato de cabeças que ele tem, qual o desempenho dos animais e ter os dados individualizados do rebanho.
O professor lembrou que menos de 10% das fazendas na atividade pecuária tem balança e apenas 30% delas tem curral e brete. “O produtor precisa ter informações seguras na mão pra saber se está ganhando ou perdendo dinheiro. Por conta dessa realidade, o professor acredita que cada vez mais, a pecuária de corte será uma atividade que estará nas mãos de grandes “players”, produtores tecnificados e com boa gestão de suas propriedades.
ASSISTÊNCIA DO SENAR
Para a gerente de ATeG, Klísia Oliveira, o apoio à iniciativa é uma forma de difundir os conhecimentos entre os produtores da região. “Além disso, a presença dos nossos técnicos permitiu que esses ensinamentos possam sem aplicados nos trabalhos de assistência técnica que o Senar realiza”, afirmou.
A técnica de campo Carmiran Turíbio atesta essa perspectiva. Ela acredita que o evento proporcionou conhecimento para ser replicados nas propriedades assistidas pelo Senar, mas também permitiu que os profissionais reavaliassem procedimentos. “Tive acesso a informações técnicas que vão me fazer repensar algumas práticas que tenho no dia a dia no campo”, destacou.